FAP – Psicoterapia Analítica Funcional: um panorama sobre os principais conceitos
Fernanda Nogueira Gôngora
A FAP, desenvolvida por Robert Kohlenberg e Mavis Tsai, faz parte das terapias comportamentais de terceira onda, sendo portanto uma terapia comportamental contextual. Seu foco principal é utilizar a interação terapêutica como contexto para identificar os comportamentos problemas e modelar comportamentos de melhora. Tem sua base teórica na terapia comportamental, mas a expande na medida em que trabalha diretamente com o vínculo terapêutico e com as interações entre terapeuta e cliente.
A ideia principal é a de que o cliente se comporta com o terapeuta da mesma maneira que o faz com outras pessoas. Sendo assim, o terapeuta tem o papel de observar, modelar e analisar a ocorrência desses comportamentos durante a sessão.
Inicialmente, no entanto, é necessário ter uma análise funcional bem estabelecida, ou seja, buscar analisar as variáveis que ocasionaram o comportamento-problema, assim como identificar as consequências que o mantém e aquelas relacionadas ao sofrimento psicológico.
Neste sentido, nas primeiras sessões é dada ênfase ao conteúdo do relato a fim de que se possa entender o caso em questão (a queixa, a história, o contexto atual do cliente, entre outros). A partir do momento que a Análise Funcional do caso foi realizada é possível fazer intervenções utilizando a FAP, visto que agora o terapeuta estaria apto a identificar a ocorrência dos comportamentos-problema e de melhora em sessão. É importante lembrar que desde o primeiro contato o terapeuta deve estar atento às atitudes do cliente durante as interações, mesmo que ainda não compreenda plenamente o que está acontecendo.
A FAP pontua e nomeia alguns comportamentos do cliente a serem observados durante o processo da interação terapêutica, sendo estes : Comportamentos – problema, denominados pela FAP de CCR1 ou CRB 1, comportamento de melhora, denominados de CCR2 ou CRB2 e análise pelo cliente de seus comportamentos CCR3 ou CRB3.
Além disso, as falas do cliente sobre as situações externas são também foco de análise a fim de que se possa observar a ocorrência dos comportamentos-problema e comportamentos de melhora fora da sessão. Nesse caso denominação utilizada é de O1 (comportamento-problema) e O2 (comportamento de melhora).
Além do comportamento do cliente, na FAP, o comportamento do terapeuta também faz parte do processo terapêutico, entrando também como parte da análise e da intervenção. Neste sentido o terapeuta deve estar atento às suas dificuldades enquanto terapeuta (T1) e aos seus comportamentos de melhora/ comportamentos alvo (T2). Em relação à atuação do terapeuta, foram estabelecidas algumas regras que servem de pressupostos para a condução dos casos, sendo essas:
Regra 1 – Prestar atenção aos CCRs- as pesquisas demonstram que quanto mais habilidoso o terapeuta for em identificar os CCRs melhores os resultados da terapia. Essa regra é muito importante na medida em que as reações do terapeuta são as consequências do comportamento do cliente durante a sessão. Neste sentido, caso o terapeuta não identifique esses comportamentos, pode, sem intenção, punir comportamentos de melhora ou reforçar os comportamentos-problema.
Regra 2- Evocar CCRs- neste caso é importante a utilização de estratégias que facilitem a ocorrência dos comportamentos durante a interação com o terapeuta. O foco deve ser sempre nos CCR2s mas a ocorrência dos CCR1s também é necessária e importante para maior conscientização do cliente a respeito de seus problemas e para a definição e caracterização, pelo terapeuta de quais seriam os comportamentos de melhora.
Regra 3- Reforçar CCR2s – A partir do entendimento de que o contexto da terapia é uma amostra do que ocorre com o cliente em seu ambiente natural, reforçar os comportamentos de melhora no momento que eles ocorrem auxiliar
Regra 4- Observar os efeitos do comportamento do terapeuta em relação às ações do cliente. Essa regra é necessária para que o terapeuta avalie a interação e possa, caso necessário mudar algumas condutas a depender dos efeitos que estão tendo para o cliente.
Regra 5- Auxiliar o cliente a entender os motivos/razões de determinados comportamentos a partir de sua ocorrência durante a sessão. É importante lembrar que essa regra se refere a instrução/orientação, pautadas pelo comportamento verbal do terapeuta. Portanto tende a ter um efeito menor do que a modelagem e reforçamento dos comportamentos de melhora quando ocorrem na sessão.
Tentamos a partir deste breve texto demonstrar alguns princípios da FAP e a maneira como são conduzidos no processo terapêutico. É importante lembrar que um dos diferenciais da FAP é que ela permite ao terapeuta ser genuíno durante os atendimentos, levando em consideração como o comportamento do cliente o afeta, o que contribui para o estabelecimento de vínculos e de intimidade, comportamentos estes que podem ser extrapolados para outros contextos.
Por último é importante ressaltar que como a FAP é uma terapia que exige bastante exposição e conexão por parte do terapeuta é fundamental que o mesmo mantenha sempre em dia sua terapia e supervisão para que consiga separar suas questões das dos clientes.
REFERÊNCIAS
Kohlenberg, R. J. & Tsai, M. (1991/2001). Psicoterapia Analítica- Funcional: Criando relações terapêuticas intensas e curativas (R. R. Kerbauy, trad. coord.). Santo André: Esetec.